quarta-feira, dezembro 31, 2008


O dia seguinte

No último dia prometo,
Sem angústias e sem pressas,
Alcançar cada instante,
Proteger-me das feridas,
Do choro arrependido,
Dos suspiros inquietos e intermitentes.

Que tudo seja claridade e lucidez,
As palavras sejam simples mas saciem, sem remédio,
O fluxo e o refluxo das vontades escondidas,
Deixem marcas de fúria e desejo,
Indeléveis ao esvair do tempo,
Inconsequente, incontrolável, irresistível,
Como o mar que se aproxima e inunda todos os medos,
Do cais à minha janela.


Passa, lento vapor, passa e não fiques... Passa de mim, passa da minha vista, Vai-te de dentro do meu coração, Perde-te no Longe, no Longe, bruma de Deus, Perde-te, segue o teu destino e deixa-me... Eu quem sou para que chore e interrogue? Eu quem sou para que te fale e te ame? Eu quem sou para que me perturbe ver-te? Larga do cais, cresce o sol, ergue-se ouro, Luzem os telhados dos edifícios do cais, Todo o lado de cá da cidade brilha...

In “Ode Marítima”Álvaro de Campos, in "Poemas"

quinta-feira, novembro 13, 2008


Conversa (improvável)


Fugaz, disfarce, espreita,
Áspera, nudez, incendeia,
Impulsivo, estoiro, queima,
Distinta vagueação dilacera,
Irremediável, ideia acontece,
Casual palavra, corrói,
Lúcido gesto, confunde,
Ávido conquistador ama,
Funesto amor cansa,
Sereno, lugar, existe,
Inútil espera, desespera,
Frágil boca, entontece,
Doce mágoa, arranca,
Agreste, voz, desperta.



”Emboscado en mi escritura
cantas em mi poema.R
ehén de tu dulce voz
petrificada en mi memoria.
Pájaro asido a tu fuga.
Aire tatuado por un ausente.
Reloj que late conmigo
para que nunca despierte.”
”Tu Voz” de Alejandra Pizarnik In
"La extracción de la piedrade la locura. Otros poemas.".

Devolveste-me

…um imutável silêncio
Mil monólogos sem resposta ou
Mostra de vida
…o tempo cativo
Partidas pelo mundo
E certezas conquistadas ao amor
Logo perdidas, descomprometidas
Irreparáveis deslizes de heróis principiantes
…a procura da voz por dentro
Sem verso ou anverso
Entornando poemas e sortilégios
Para lá dos muros da cidade.




“Tua voz no lacerar irreparável da tarde,
é como um gesto que arde
no fogo lento do canto...”
Ulisses Duarte, In "Poetaneamente"
*

“Devolveste-me os Cafés
cheios de gente que afinalexiste
Devolveste-me o tampo liso das mesas
sua lúcida certezade estar só”
Teresa Rita Lopes, Primeiro Poema do Amor Difícil
In"Os dedos os dias as palavras".

*

“Há quem quase tristemente nos deseje boa sorte.Mas a cidade alastra para além destes gestos.
Multiplica-se em rails e deflagrações de rolas.
Crispa-se em vaga-rosa e surda duração.”
Mário Cláudio In "Terra Sigilata".

quarta-feira, novembro 05, 2008

Cumprir o mundo

Mudou o sopro do tempo,
Quando lento é o tempo da mudança,
Quando os dias são esquecimento e cansaço,
As dúvidas são do medo e tédio.

Irrompe em chama no coração
A dor que é cumprir o mundo,
A inevitabilidade de amanhã ser mais,
Não ansiar por dias distantes.

E o mar avança pelo céu e pela terra
Cada dia, todos os dias,
Salgado e amargo, revolto,
Seguindo rumos e outras partidas,
Palavras minguantes, de pedra e amor.

E o vento sopra sempre em todas as direcções do tempo.

*


”Mas num dia amargo, num dia distante sentirei a raiva de não estender as mãos de não erguer as asas da renovação.” Pablo Neruda, in “Cadernos de Temuco”Tradução de Albano Martins


*
“Todo o mundo é composto de mudança”
Luís de Camões, in “Poesia Lírica” - “Mudam-se os tempos”


sexta-feira, outubro 17, 2008

Escondido (no tempo)

Esconde-se na tua pele
A noite eterna,
O medo frio de não chegar,
De não me lembrar a que sabem os dias a meio do mês
E as horas fora d’horas,
Os prazeres sofridos da culpa e da ambição
Como foragidos
Mergulhando, impossíveis, conscientes,
Definhando,
Sem terra nem chão, nem coração.

segunda-feira, agosto 25, 2008


Paredes

À volta são só paredes,
Olhos sem cor,
Perdidos na manhã que se desmorona
Em pesado silêncio,
Consumindo-se,
Por cada ruído de outro mundo,
Num indelével crepitar da despedida,
Em encontros casuais com o abismo do esquecimento,
Esperando em cada sombra
O espanto mudo e imperturbável das palavras
Escapando-se das janelas escancaradas sobre a cidade.


imagem: semanário "sol" 25/8/2008
incêndio do Chiado - 25/8/1988

quinta-feira, agosto 14, 2008



Embarcando

Os dias abandonam-se vagarosos
Espiando as velas perdidas no mar,
Sem nome, nem medos, nem porto,
Embarcando sempre ao longe,
Recusando palavras ou atenções,
Temendo acordar febris e adormecer
Sabendo por quem chamar.

Nada mais se ouve.

Estico os pés sobre a água,
A beira-mar limpando a saliva e a espuma das pedras,
E esqueço-me da certeza do regresso, da sorte
Dos enganos que não revelo serem meus.
(Therasia - Grécia)

terça-feira, agosto 12, 2008


Crepúsculo

Ébrios,
Sossegamos ao crepúsculo
Emudecidos,
Escrevendo a café e silêncio,
O temor e a surpresa,
A aceitação da eternidade,
Os instantes sem distância,
Depois de nós e de todos e o mar, sem horizonte,
Dormindo sobre as palavras,
Dançando sobre o amor,
Rindo sobre o calor despertado, que irrompe
E se desfaz,
Todos os dias,
Finito, como nós.


“(…)baila, con el corazón apuñalado, cantay ríe porque la herida es danza y sonrisa,(…)”
in La Bailarina Apuñalada de Nazik Almalaika
– traduzido por Maria Lucia Prieto.)

(Thira - Santorini - Grécia)



sexta-feira, agosto 08, 2008


Perto do mar


As sombras da felicidade escorrem apressadas
Nas esquinas brancas, escondidas, adivinhando,
Despertadas pelas cigarras em sentinela,
Assobiando ao calor,
Ao mundo, levantado na ponta dos pés
Perto da porta, do mar,
Ao lado da janela
Onde o sol chega até metade a esta hora,
E as horas da tarde são para sempre…
Thira (Santorini - Grécia)

quinta-feira, julho 17, 2008


Palavras inteiras

O céu suspende-se
Nas constelações de palavras que crescem, voam
Nas velas, nas redes, nos sons da respiração silenciosa,
Sustendo-se numa garrafa deitada no mar.

Inesperados caminhos, estes,
Perfumes ocultos na luz imprecisa, inesperada, sublime do Egeu
Onde tudo é um princípio ardente,
Uma história sem regresso,
Uma lua rara e um amor inteiro.

Tudo se precipita no abismo,
Com ardor, crepitando nos instantes do meio-dia,
Esperando a reconciliação da noite,
Do anúncio da sombra espessa e abundante,
Do universo encontrando o seu lugar.



Imerovigli (Santorini - Grécia)

sábado, julho 12, 2008

Mediterrâneo

Aqui sou eu,
Gigante,
O mundo, que descansa,
Braços descoberto sobre a mesa,
Até mim, entre nós, as palavras,
A verdade, navegando, o vinho.
Somos tempo e luz que não se encontra nem se apaga,
Que nasce e mergulha no horizonte,
Sem cessar,
Como tu e eu...

Oia (Santorini - Grécia)

O Mediterrâneo ao longe escurece
Mas
Eu
Sou o único azul.
O passado do Mediterrâneo é antigo, distante,
Mas
Eu
Sou o dono das estrelas.
O Mediterrâneo não pode criar-te novamente
Mas
Eu
Posso te amar mais uma vez.

Fazıl Hüsnü Dağlarca
In Poemas do Mediterrâneo

terça-feira, junho 24, 2008




Peito rasgado

É no silêncio mais quente deste poema,
Que ainda não se vislumbra a inquietude latente da aproximação,
A vibração incandescencente do aviso tombado na porta,
Na escada, no quarto, na cama, na boca,
Prostrado,
Sem brandura, com estranha intimidade,
Desfazendo-se em tremor,
Explodindo, ressoando,
Do interior, peito rasgado,
Explodindo, sem apelo, nem agravo
Na vibração de uma nota suave.

A forma como se expandem antes e depois de nos devorarmos
Assim como fogos que se extinguem e renascem
Atravessando o calor da noite
E todas as moradas dos acasos felizes
Que implodem quando menos se espera
E quando mais nos queremos.

quinta-feira, maio 22, 2008




Águas paradas

Suspiro…
Por vezes penso, demasiadas vezes,
Será esta a minha ardência, o meu compasso,
O lugar, das minhas outras palavras, as próximas,
As que não falam mas batem inquietas, tocam, afagam?
Será este o idioma dos meus pensamentos, aqueles, os indecifráveis
Que segredam a verdade inesperada da angústia,
Dos desejos soletrados só para mim?
São apenas todos medos,
São águas mortas onde não chove,
São mordaças de silêncio.

quinta-feira, maio 15, 2008


Outro calor

As razões suficientes do fingimento
Lambem-se sobre as folhas, as palavras iradas
Nos momentos em que perco a vergonha dos teus olhos,
No fumo da descoberta dos risos perdidos da porta laranja,
O Bairro na hora que peca e anoitece
Uma vez mais e se desfaz,
Ilusão,
No meu medo imortal de outro calor
Que não este,
O teu, diminuindo, fugaz.

No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.
José Saramago in “intimidade”

segunda-feira, abril 28, 2008


O escuro imenso

O mundo ameaçava derrubar o medo sobre água
Prolongar o escuro vazio sobre o mar.
E as pontes uniam-se ainda demasiado longe,
Abraçando as luzes solitárias e trémulas de um corpo vigilante ao acaso.

Era Abril descendo a Graça ao mar da palha,
Num venerando silêncio.

terça-feira, abril 08, 2008


Curta

Mesmo que esperasse a imensa travessia das duas pontes sobre o mar,
Todos os diabos seriam lapsos imperceptíveis e fugazes,
Curtas chamadas irresistíveis, indulgentes.
Seria só chuva, desabotoa, ruído baço que desbota.



É curta a distância entre a vontade e a razão.




“Ser Deus por uns minutos e parar o sol sobre Lisboa.
Ora aí está a solução: parar o sol sobre Lisboa, parar o sol sobre mim”
De José Lobo Antunes
In “Se eu fosse Deus parava o sol sobre Lisboa”

sexta-feira, abril 04, 2008


Quase dormia

Abril aquece antes de tempo,
O telefone interrompe o meu cigarro na janela,
Falas que passavas por acaso,
Hesito entre a cama, uma cerveja no Bairro e os prazeres do corpo.

Vem.

Óculo indiscreto treme,
Oiço a porta, dois andares abaixo,
A porta entreaberta força o beijo, a língua,
A mão entre a tua roupa e o teu corpo,
O teu peito, as tuas nádegas, a língua outra vez,
A voz que nada diz e tudo quer,
E tudo faz, descreve clichés, diverte,
Transpira.

Sabe bem, ir ao acaso, com as mãos e as palavras.

sábado, março 22, 2008




01:24



Álcool derramado a três vozes sobre a mesa,
Olhos, desejo, sentido, mãos sobre o sexo
Dos anjos, lutando por um quinto do inferno,
E nada restando do céu prometido
Em cada respirar sôfrego,
Ansiado a todas as últimas noites.

Trágica, a poesia da decadência.

quinta-feira, março 13, 2008

Madrid (palabras sencillas)

Debajo del cielo de Madrid,
El amanecer llegó temprano
(Me envenenó con el miedo de la tormenta)
Y se olvidó de quién soy,
De las cosas que deseo con ganas y dolor.
(Mientras la noche no empieza y no termina)
Como cautivo y loco,
Sigo el sonido de las calles
Hasta llegar a ti,
Hasta llenarme de ti.

Me dejé al sueño, al pressentir el olor del verano.

quinta-feira, fevereiro 28, 2008



Lisboa (longe)

É triste a poesia dos horizontes que definham,
Do céu e das ruas que se perdem no caminho,
Das casas e dos telhados esventrados, sem coração,
Das almas enredadas na cidade escura que se dilui e se estende
Para longe.

Há dias assim,
Em que se acorda em outro lugar,
Luminoso.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008


Sublime pranto

Nomes à solta,
No confronto das vagas
Esbracejando,
Corações pesados
Lançados no mar,
Embarcados nos enganos,
Num sublime pranto,
Como ferro esfriando, esmorece
Quebra de dor.

Não tarda que acabe
Este queixume moribundo,
Gritos esmagados
Que já só Deus pode atender,
Como frágil caravela condenada, ardendo,
Afundando na rebentação.

O céu reclama
Por nunca termos sido mais do que a exacta poesia
Da névoa tomando o cais,
Da chuva beijando as brasas que se afogam diante nós.



“(…)A chuva no chão revela
Os olhos por trás
Há que levar o restolho
Do que o tempo queimou(…)”
In “Laços” de Tiago Bettencourt

sexta-feira, fevereiro 01, 2008


Anónimo

A voz tem a máscara das horas
Anónimas,
A fala é feita de sílabas cúmplices,
O vício da mentira é um presságio de sedução
De paixão sagrada,
O lume do corpo é incerto e tormentoso
Murmurando ao coração em frágil vigília,
Atento à passagem dos astros e das aves,
Na vertigem do fogo e da cinza.



Outros nomes esquecidos

Não encontro no sossego da noite em diante
Na vertigem da escrita
O sentido oculto do meu nome,
Nem a saída nem o começo
Do labirinto desenhando na condensação da janela.

Dormes,
Corpo devassado sem cicatrizes
Sem identidade,
Diluído numa metáfora desinspirada
Imediatamente esquecida,
Latejando ensurdecedoramente.

Os outros, os nomes esquecidos
Da minha insónia,
São nómadas vagueando por esta casa,
Cúmplices das folhas brancas que se soltam
E se tingem de palavras arrancadas no meu peito.

quinta-feira, janeiro 31, 2008


Negro prado cintilante


Sigo o rasto rasurado dos sonhos,
Sem estrelas nem mapa,
Cruzando abismos de olhos fechados,
Embalado na respiração ordeira e transeunte
Dos mais simples intentos que invento e
Que desmembro à nascença.

É inaudível, transparente, fétida e dolorosa
A geografia rasgada da cidade,
Monstro sub-reptício devorando-se em sofreguidão,
Que fende, cede, abre, pulsa, rasga,
Corrói o horizonte fissurado
Pela luz difusa deste negro prado cintilante.

O nome da viagem é o caminho para a morada esquecida.



(…)este negro prado de cimento cintilante
de ramos e segredos oníricos
de silêncios dissonantes
de caos harmoniosos (…)”
in “Nave Mãe” de Pedro Peralta





Ferrugem

Por entre as grades e a neblina
Prendem-se as luzes ferrugentas do porto,
Acalma-se a vastidão dos gritos metálicos,
Numa longa descida às horas mortas da madrugada.

Passos nascem e morrem nas ruas largas dos aterros ribeirinhos,
Perdidos,
Afogados em chuva lacrimosa
Nas paixões que arrefecem,
Abandonas à ferrugem dos quartos vazios e
Estuque esboroado,
Despontando das fachadas tristes,
Precipitando-se das sacadas podres que assomam nas colinas.

Em todas as janelas, o horizonte é fundo e triste.
Entrego-me.








“Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer (…)”
In “O Sentimento de um Ocidental” de Cesário Verde

quinta-feira, janeiro 24, 2008


Conta (me)

Às doze passa o comboio e o barco
Dos cinco minutos depois, avisa a cidade, agora
Que se afasta da marginal, aos quinze minutos de cada hora,
A que demoro, todos os dias,
Para as avenidas altas, às treze,
Onde espero mais vinte, eternidades, por ti,
E gasto mais dez, cigarros, implacáveis
Com os meus trinta e um anos de vida,
Perfeitamente realizados
A cada uma das incontáveis ocasiões que te toco,
Amaldiçoados dedos, cinco, os meus e
As vezes ao dia que digo que vou fugir, outra mentira,
E voltar aos teus braços, quatro,
Envolvidos todas as manhãs, mil
Histórias contadas a cada sonho e noite que perco da conta, sempre,
Quando sabemos que isto não vai mudar,
Sempre que nos lembrarmos de nos questionar,
Se somos dois ou um.

Conta-me, quanto falta para não faltar mais nada,
Para sermos deuses e enquanto quisermos,
Para termos a eternidade até que caíamos mortos,
Como heróis,
Repletos de tédio ou de excesso de nós.

sábado, janeiro 12, 2008


Gozo caprichoso

És,
Caprichoso gozo atormentado,
Prazer obsceno encoberto,
Palavra que não existe,
Segredo cansado, decifrado,
Inferno,
Sangue ardendo profundamente,
Eco do riso que arranha o relento,
No paraíso,
Veneno de bem-querer,
Sombra que esconde, finge, vicia,
Crua verdade, maldade fugidia
Que tropeça,
Em mim.

sexta-feira, janeiro 11, 2008


Argonauta

Vens de feição, tempestade solta,
Amor cavado e de ondas altas
De correntes escuras fustigando os antípodas,
Afogando de desejo, pressa, medo e engano,
Perdida, perdendo, afundando-me, em mar sem sentido.

Não vás sem que eu saiba porque vens,
Perde-te, acha-me nas dúvidas revoltas,
Nas notas libertas de um obscuro fado,
Na chuva que não pára
E te obriga a ficar,
A olhar para dentro do que deito para fora,
Decifrando verbos claros e adjectivos proibidos.

As sombras que assomam na rua
Abrem-me o coração a cinzel,
Destemidas, sem medos, com força e inspiração,
Tágides caladas, em voz funda e firme,
Indicando-me as amarras trocadas
Nas nossas duas margens.

Sopras-me o mundo que se perde no embaraço,
Deitas-me fora, choras
Renegas as escolhas sonolentas dos tempos, do passado,
Sou eu, barco perdido, destemido Argonauta
Que não descansa.
Tu, Adamastor ferido,
Arriscando matar de tanto amar.

sábado, janeiro 05, 2008


Segredo

Uma voz esplêndida viajando,
Uma orquídea selvagem
De modos extravagantes,
Vagueando nos ouvidos do mundo,
Brotando de uma nua e virtuosa cidade
De ruas e musica cheias de tempo e pressa,
De calma e de dias a menos para outros dias,
Subindo e descendo nos elevadores rabugentos
Mas de cheios corações rendilhados,
De braços abertos respirando
Os risos nocturnos,
Olhando a encosta que se estende incólume e teimosa
Como a felicidade agora decifrada
Perante nós,
Confessores clandestinos sorrindo,
Saboreando os segredos que se revelam em surdina.