quinta-feira, novembro 15, 2007


Desconsolo

Talvez nunca mais

O teu olhar fugitivo perderá passos no meu alcance,

Deixará destroços no meu porto

Onde nada existia e tudo acontecia,

Na sombra mascarada dos desejos ocultos,

Mergulhados nos baixios que ninguém conhece.


Talvez, outra vez,

Nos diluamos no desconsolo e na solidão

Como margens abandonadas sem brilho

Esperando consolo e absolvição.


O canto do muezim

No mais puro encantamento,

Nem o silêncio quebra o despertar do horizonte

Ressoando nos pensamentos adormecidos

Dos mundos que se abrem todos os dias

E se fecham, incógnitos,

Indiferentes e insuspeitos ao dançar das sombras.

É da paz, a virtude de se poder amar as coisas divinas,

E do crepúsculo, o renascer do impulso de mais querer,

Sentir as palavras suspiradas pelo acordar da cidade,

Quase imperceptíveis, quase irremediavelmente distantes.

Só os pássaros ousam rasgar os restos da madrugada,

Como se nada fosse senão o mais belo dia que se respirou,

Mesmo que de olhos e alma descansando,

Escondidos de si e da sinuosa tarefa de inventar palavras e línguas,

Que se justifiquem descrevendo o agora.

E por outra vez,

Antes do irromper do rumor das ruas,

Ouve-se no mais simples vocalizo,

O calmo renascer da consciência do mundo.