segunda-feira, dezembro 26, 2011

II

Suspiro nos compassos intermitentes dos risos, por vezes, demasiadas vezes,
aturdido no furacão que fustiga a tua, a nossa, aproximação.
Será esta a minha sôfrega ardência ou a loucura descontrolada que nos abraça e sufoca?
São as minhas, as tuas, as outras palavras, as próximas,
ensurdecedores pactos de silêncio, que nos aprisionam na decadência obscena dos sentimentos mais obscuros?
São desejos que soletramos,
que segredam a verdade inesperada da angústia, são medos,
águas mortas onde não chove, mordaças de silêncio infecto.
Somos tristes, caducos, arruinados.
Estamos despidos e desferimos golpes sem misericórdia, sem vergonha, sem limite.
Fujo de ti na certeza de que não te posso escapar.
Observas-me. De longe.
Excitada por saberes que me fazes mais homem.
A minha língua limpa,
sedenta, salpicos de sangue e saliva. Não sei se em ti, ou em mim.

IV

A tua boca declara guerra,
De língua desembainhada, sentencia a morte de todos os beijos,
Irreversíveis os que perdemos, eternos os que prometemos, mortos os que lastimamos.
A paixão persegue-me sem quartel,...
E nada mais me resta que viver estropiado,
Quando nada mais se move no tempo que empresto, no amor que hipoteco,
Perdido o sustento ou o ofício de amar.
Que faço amanhã,
Se a renda que há meses não pago deixa o coração livre para novos inquilinos,
Desconhecidos, outros que não nós?
Estou despido, fugindo do relento, procurando lugares escondidos dentro de nós.
Lambo as marcas da carne ferida.
Não aprendi a evitar a tua pele de arame farpado.
Mas outra coisa não sei, cativo me declaro e rendo,
Revelo-te os segredos, o sexo na minha roupa.
Beija-me ou mata-me. Sem remédio, sem desculpas, esta noite extingo-me na tua cama.