sexta-feira, maio 20, 2005

Velas (enfunar)

Alongam-se as tardes reflectidas em ocre derretido
nas velas junto ao rio, altivas,
que não mais se recolhem
nem se dobram a qualquer sopro divino,
pontuando como proas orgulhosas
a pouca luz que ainda nos toca,
agitando-se no veludo das águas que não sossegam,
indo e vindo,
torrente incansável demorando diluir-se no sal que se aproxima.

quarta-feira, maio 11, 2005


Non si muova...

Almas cúmplices descortinando-se ao entardecer,
Mostrando-se em recantos de intimidade infinita,
Num jogo opiáceo de perpétua vigília,
Em movimentos de silêncio como fio de prumo

Cores magníficas sublimando-se,
Meias palavras crepitando,
O fragor de um dia maior, irrompendo debaixo de fogo
Queimando,
Corpos feridos da travessia, um escrevendo o outro
Como demónios à solta.

Naquela noite de Nápoles ouviu-se a mesma ópera
Um amor insurrecto, carnalidade absoluta,
Num pendor trágico e febril de um tremendo desejo,
Sem queixumes ou lamentos,
Apenas movimentos libertários, cintilando na penumbra.

segunda-feira, maio 09, 2005


As feras

Queimo por dentro em grave doçura,
Escondido na fresca claridade da multidão
Rugindo, ouvindo
As feras que habitam os nossos passos
Os risos vastos de uma fuga apressada do medo,
Do escuro da barra na fúria do inverno,
A pele irritada da poeira que nos cega.