quinta-feira, março 29, 2012


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(i)mundo

Silêncio.
Perante ti, o gosto amargo do silêncio. Procuro redenção na transpiração dos nossos
vícios.
Oiço-te chegar, partir, abrir e fechar todas as portas e janelas para o nosso
passado. O futuro é agora e acabou de passar. E outra vez.

Escurecemos
as sombras que fogem, que cobiçam o nosso desprendimento, a nossa vagabundagem.
Os teus cigarros surgem nos cantos, criam altares toxícos que não renegas e veneras.

Veneno,
Aquele que temos um pelo outro, como um vício insuperável, instintivo, imanente.
Preciso tanto deste silêncio, líquido perfumado, pó de estrelas decadentes,
como de dormir.

Não o posso evitar. O tempo perdido devora-nos. O prazer da minha carne não é só meu.

Observas,
O tempo, tu, a mim, enchendo o teu copo de rancor, de virtudes condenadas, excomungadas, repetidas vezes sem conta. Sem penas. Sem castigos.

Esperas-me
ao fundo das minhas dúvidas. Por isso não te vejo e não as esclareço.
Por isso a dor desaparece ante a ignorância do futuro. Que é agora e acabou de passar. E outra vez.

Cansaço.
Esgueira-se sem rodeios, arrasta todas as letras das palavras imundas que enfeitam a nossa rua,
que inundam a tua boca, que surgem nos poros transpirados que se revelam, em espasmos, vómitos.

O mundo apaga-se quando eu fecho os olhos.

sábado, março 17, 2012


POESIA no metropolitano de Lisboa ;)

quinta-feira, março 08, 2012




Alucinação

Sou um alucinado que perde no cheiro apodrecido nas palavras solenes.

Não resisto às declarações de amor cavalgadas em salas vazias sem atenção,
Uma e outras, de indisciplinada inspiração,
Minuciosamente escavadas nos silêncios e intervalos dos poemas,
Dos dedos da tua mão,
Vincados nos recantos ardentes do meu corpo.

Eu era vivo e morro todas as vezes nos impulsos discretos das circunstâncias acidentais.

O quotidiano supera as dúvidas das tuas promessas,
O castigo da escolha do antro onde te amar melhor que a última vez,
Como se soubéssemos distinguir, sequer, o que sabemos, o que queremos, o que desprezamos.

O tempo passa e envenena a feroz ilusão de que temos alicerces cravados algures.

Envelhecemos no espaço estéril da ventania.

O tempo passa e é coisa que não se perdoa,
Porque já passou e não pode ser outra vez.