sexta-feira, julho 12, 2013

Lisboa (estio)


Demoras a acordar.
Suspiros profundos recortados nas travessias que despertam,
Crescendo nos ventos africanos da manhã.

Corre-te o rio na nuca, transpirado, sonolento,
Expulsando pássaros salgados pela janela,
Com as primeiras palavras do dia.

Acordas Lisboa, cansada, rindo do vácuo da noite, do estio,
De corpo gasto, sepultado nos mistérios aromáticos, etílicos,
Dos peixes que alcançam terraços
Em chamamentos longínquos.

Lamentas não ser aquele dia, não ser a próxima
Palavra atada, submergida no fogo dos arredores,
Nos Jacarandás brilhando, o ouro luminoso do verão.

Beijamos a brisa, desfazemos o mar em cada ponto invisível
Do corpo e das muralhas que crescem e se esboroam,
Cada vez que nos deixamos exaustos, perdidos, os corações e
Os navios na barra.

Pressinto que deixo de existir em ti,
Subitamente, em todos os segundos,
Sempre que morres e que nasces,
À beira, no clamor do mundo.