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Coisas da alma
Pássaros dormem ao vento
Ao som das águas costeiras,
Sussurrando palavras lúcidas, coisas da alma,
Nas alturas em que nos calamos como fantasmas
Com tempo para a solidão,
Sem silêncios incómodos,
Esperando apenas o fim da tarde.
Olhares outonais, seguem as voltas de um barco, sobre si mesmo,
Pensando e respirando como poucos,
Embriagados,
Ouvindo o deslumbramento, a cada nota cantada,
O som flutuante da maré subindo o cais,
Cobrindo a areia escura da margem.
A leve e insidiosa brisa do norte
Volteia e desfaz, em riscos, a planura do rio,
Mistura e espalha, cores e borboletas extraviadas,
Assinala a espuma que se esvai com a corrente,
Prega-nos as mãos, uma com outra, fixas
Na madeira podre e húmida do varandim,
De coração apertado, ansiando rebentar em fogo de fim de ano.
A luz escapa-se para as margens, renascendo,
Deixando-nos suspensos sobre a torrente que não se vê,
Acalmando, refreando a vontade de mais um beijo,
Olhos encontrando-se, brilhando...
As luzes na ponte dizem-nos que já escureceu.
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