segunda-feira, fevereiro 02, 2004

a natureza da acção


O Aeroporto de Lisboa já me permite respirar, suspirar as palavras, as ultimas e derradeiras.
Sorrir perante os inebriantes enganos que já conheço, reencontrados e entregues em delírios obsessivos, outras vezes traçados pela casa, em cada divisão, em cada parte
Um corpo inteiro de volúpia, desmaios, serenos de prazer, sorrisos incandescentes e transbordantes arrancados ao suor salgado da pele, naufragando em sonhos de sémen derramado, elevando os olhos fechados ao cúmulo da abstracção, tentando não pensar, apenas respirar, esquecer o mundo por baixo, lá fora.

Sozinho na multidão de Agosto no porto de Piraeus, em Atenas, esperava-te no mundo, na secreta esperança de naufragar, desaparecer por um instante sem marcas nem gotas do mar que nos salpicaram de sal, morrer com hora marcada, antes de percebermos a realidade, o minuto seguinte à insensatez orgásmica, o único momento de sinceridade antes de acordar para a verdade que pensámos ter perdido, diluída no azul do Mar Egeu, à deriva em ilhas que descobrimos o prazer.
A tua inabilidade para perceber a genética masculina igualava o desconhecimento americano de outras culturas, mas desculpa-se, esquecia-se, esquecemos, nos inúmeros momentos quase contínuos de sexo sem limites às nossas reservas, começando sempre inesperadamente, mas acabando irremediavelmente da mesma forma. “Amo-te” , não como normal palavra soletrada, mas como suspiro aliviando-me da dor do prazer, mais forte do que eu, entranhado na minha genética.
E magoa, magoa-nos a nossa incapacidade de aceitarmos que somos diferentes.

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