sexta-feira, fevereiro 27, 2004

Lixo


Se a noite enganou
A manhã veio desvanecer de qualquer dúvida.
Em tinta escura, sujando os dedos
Ou ao sabor de uma estranha melancolia
Uma banda sonora dissonante de sussurros e zumbidos
Mostrando um espólio de luminárias
Capaz de incomodar.
E num instante que é breve,
Num franzir de sobrolho,
Uma narração insólita de sombras,
De tudo aquilo que vem à cabeça...
Queima como gelo um desprezo tão determinado.
Ironia da ironia,
Inteligência de quem mexe ao sabor da inquietação,
Tudo é apenas uma coisa:
Doce morfina derramada que nos sacia
Em pequenos espasmos
Cuidadosamente administrados,
Como intrigantes viagens sem amplitude no tempo.

*

"Há dias em que julgamos que todo o lixo do mundo nos cai em cima”
Eugénio de Andrade, in Lugares do Lume


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