sexta-feira, dezembro 05, 2003

Instantes

Soltas um suspiro pela minha dor,
uma oração murmurada e ausente
em doce canto,
o adeus sem a amargura das palavras,
sem gratidão pelas almas que choram,
as nossas,
a minha, sem te esqueça,
sem um só minuto que não te adore,
porque as almas que se amam não se esquecem,
não se ausentam, não dizem adeus.
A eternidade não é o instante de um suspiro,
passa o tempo
e a vida segue de outras formas,
palpitante
exuberante como o sangue e a chama
que existe sem ti.
Mas permaneces,
muito para além das horas.

*

No silêncio, enfim, debruça-se sobre o corpo inerte e beija-lhe a testa. As mãos enroladas num pano, limpam-se de culpas, lavam a consciência. Veste o casaco, demoradamente, e abandona a arma em descanso sobre a mesa, antes de sair pela porta já aberta. Sorriu. Guardei-a só para mim.



Daniel Bayesha

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