sexta-feira, abril 16, 2004


O eco dos teus passos



A caligrafia estampada em folhas encarquilhadas,
Riscando o mar como cal desfeita na parede esboroada,
Abrindo cicatrizes, salivando,
É poesia que não se contende numa prosa de dias.

Num riso cortado, sem pressa nem lâmina,
Perdendo sangue que alastra e escorre
no esplendor dormente do meio dia de Marraquexe
Que permanece e sucumbe ao fogo da tarde
Escondendo, comendo a tinta do papel.

A sangria tempestuosa e ribombante dos teus passos,
Num furor desonesto e erótico,
Correndo sem escutar o eco da medina,
Deixando-me ao escuro sono da solidão,
Decepando sem misericórdia as cores que nos cobriam,

Mais uma vez ofuscado pela imensa luz transbordante do deserto...

Ao fundo da rua, desde sempre,
como uma promessa