segunda-feira, agosto 25, 2008


Paredes

À volta são só paredes,
Olhos sem cor,
Perdidos na manhã que se desmorona
Em pesado silêncio,
Consumindo-se,
Por cada ruído de outro mundo,
Num indelével crepitar da despedida,
Em encontros casuais com o abismo do esquecimento,
Esperando em cada sombra
O espanto mudo e imperturbável das palavras
Escapando-se das janelas escancaradas sobre a cidade.


imagem: semanário "sol" 25/8/2008
incêndio do Chiado - 25/8/1988

quinta-feira, agosto 14, 2008



Embarcando

Os dias abandonam-se vagarosos
Espiando as velas perdidas no mar,
Sem nome, nem medos, nem porto,
Embarcando sempre ao longe,
Recusando palavras ou atenções,
Temendo acordar febris e adormecer
Sabendo por quem chamar.

Nada mais se ouve.

Estico os pés sobre a água,
A beira-mar limpando a saliva e a espuma das pedras,
E esqueço-me da certeza do regresso, da sorte
Dos enganos que não revelo serem meus.
(Therasia - Grécia)

terça-feira, agosto 12, 2008


Crepúsculo

Ébrios,
Sossegamos ao crepúsculo
Emudecidos,
Escrevendo a café e silêncio,
O temor e a surpresa,
A aceitação da eternidade,
Os instantes sem distância,
Depois de nós e de todos e o mar, sem horizonte,
Dormindo sobre as palavras,
Dançando sobre o amor,
Rindo sobre o calor despertado, que irrompe
E se desfaz,
Todos os dias,
Finito, como nós.


“(…)baila, con el corazón apuñalado, cantay ríe porque la herida es danza y sonrisa,(…)”
in La Bailarina Apuñalada de Nazik Almalaika
– traduzido por Maria Lucia Prieto.)

(Thira - Santorini - Grécia)



sexta-feira, agosto 08, 2008


Perto do mar


As sombras da felicidade escorrem apressadas
Nas esquinas brancas, escondidas, adivinhando,
Despertadas pelas cigarras em sentinela,
Assobiando ao calor,
Ao mundo, levantado na ponta dos pés
Perto da porta, do mar,
Ao lado da janela
Onde o sol chega até metade a esta hora,
E as horas da tarde são para sempre…
Thira (Santorini - Grécia)