segunda-feira, abril 23, 2007









Subitamente, no verão, apenas um zumbido. E o mel nos teus lábios.




sem título




No dia Mundial do Livro, associo-me à iniciativa do DN, contando uma história em apenas 10 palavras.










sexta-feira, abril 20, 2007


Resina


As velas soltam palavras em combustão,
Fricção de pés brancos no lençol mordido,
Lambendo, gotas de tédio e paixão,
O Outono, adornando e caindo nas mãos,
Os ramos dobrados, em choro, quebrando,
Resina, sumindo de seguida, seguindo
Os pássaros migrando, diluído nos enganos,
O rio e o mar, mistura fina,
Interminável templo de sal raro,
A chuva no horizonte, lama, terra,
Subindo no vento, a poeira,
Pousando no silêncio manso, dos soluços escondidos,
Prisioneiros,
Os zumbidos, borboletas,
Dois gritos, o deleite,
A resina nas curvas da boca.
*
"(...)Vai, porque quem não pede perdão
Não é nunca perdoado."
Vinicius de Moraes in Insensatez

quinta-feira, abril 05, 2007


O som da beleza

A que soam os acenos e nevoeiro,
A cidade, o risos da multidão,
Os pensamentos sós, os segredos,
Os prazeres proibidos na escuridão,
A tristeza, a voz inesperada
Dos desencontros.

A que soa o ouro,
Caindo sobre a pele,
A face preciosa do mundo,
O canto da memória, o coração,
A areia, o sal,
A que soam a línguas e as lágrimas,
Os fantasmas e o deslumbramento.
A que soam os ventos lusos
Ouvir falar de amor...?
Budapeste - Hungria

"O amor é um perfume
Perfume que se esvaece.
Mário de Sá-Carneiro in "Amor"

terça-feira, abril 03, 2007


Beijos no cimento


São traçados a tédio, sincopados,
Os encontros e as ilusões,
Pequenos mundos devorados a cinzento
Que as breves horas apressadas nos deixam.

De ip’s e ic’s forma-se a anatomia do que já fizémos,
Os itinerários que se complementam, as certezas do fim
Afundam-se no cimêncio dos beijos,
A um ritmo pendular,
Frios e mudos,
Roubados às canções pálidas que ofereci,
Perdidas,
Nas peregrinações encenadas de todos os dias.

Tudo é um grande momento único,
Na contigência geométrica da calma suburbana,
No sono profundo dos arredores,
Entorpecendo lábios que se tocam
Escondidos.


cimêncio, s.m. (do lat. coementu por aglutinação com do lat. silentiu). Estado calcário de pessoa ou cidade que revela uma calma fortísssima. Mistura de cal, segredo e mistério, impenetrável ao tempo. União íntima; pausa fundamental. Suspensão de base ou fundamento. Sono profundo dos arredores. Construção imaginária; matéria-prima do espírito.
luís gouveia monteiro
após Diogo Lopes e Nuno Cera in"Cimêncio" (Ed. Fenda, Lisboa)