quinta-feira, agosto 31, 2006
quarta-feira, agosto 30, 2006
Desejo incerto
No ínfimo compasso de um aceno,
Uma mudez amarga que se escreve e apaga
Como uma lenta e vagarosa repetição dos dias,
A tristeza dormitando
Nos hábitos de corpos juntos com hora marcada,
Teimosamente acordando
O febril instinto da unificação de sujeitos,
Numa infernal repetição de adjectivos
E estilhaços de suspiros liquefeitos.
Rastejamos na corrosão de desejos agudos,
O prazer angustiante de inventar outra rua,
Outro aceno que nos chame,
Outro mundo que nos ignore e liberte.
Colam-se os corpos,
No ínfimo repetir de um aceno.
terça-feira, agosto 29, 2006
Amor cadente
As chaminés lançam negros gritos
Na irreconhecível memória da tempestade,
Escavando memórias
Em pleno estrondo de trovoada,
Murmurando os nomes de águas enfurecidas
Que infiltram a nossa cama.
Dançam amores cadentes, sorrisos breves
Sobre as cinzas dos teus pensamentos,
Lamentos tardios cuspidos no mundo,
Sobre nós, corpos magoados com gosto a desdém,
Que ecoam no fim das coisas,
No limite das últimas palavras que não se repetem,
Depois da ressaca de outro abandono.
Em ti nasce o meu dia sem rumo.
segunda-feira, agosto 28, 2006
Embriaguez
O vento espalha pétalas de lua sobre a calma da noite
Abrindo as nuvens de medos sussurrantes,
Revelando um céu quase virgem de olhares
Como se fosse a única vez que te tocasse
E a última,
De tal forma fulgurante
Que acendemos fogos sobre a água escura do rio
Com restos de entardecer,
Crepitando assustadoramente os nossos nomes,
O vernáculo que soltas quando nos temos,
Os nomes das coisas que inventamos, e fazemos
Sobre o suor das risos ao crepúsculo,
Dos suspiros que se confundem com o rumor da manhã,
Sem rumo, sem norte, sem bússola,
Perdidos,
Num recanto qualquer com vista para o Tejo,
Vagueando, algures na nossa embriaguez,
Devorando-nos em surdina,
Reclinados sobre um precipício que não acaba.
É tudo o que temos,
Quando nos temos…
sexta-feira, agosto 25, 2006
quinta-feira, agosto 24, 2006
Breve chama
A lenta lucidez da paixão maligna que me vigia,
Sem cessar, vaga,
Vigiando a dança das folhas na vastidão do silêncio
Encerrado no pequeno canto que guardamos vazio,
Pernoitando nos sentimentos porosos que nos separam,
Indiferentes ao latejar das palavras na chuva espessa
Apagando os breves chamas que nos consomem,
Esquecendo os tempos em que não tínhamos horas,
Nem tormentas ou amarras a nada que não fosse desejo.
A pele definha ferida, na surdina do gelo de outro copo,
Num maior engano, nós,
Que nos amachucamos como fantasmas de turva existência,
Lamentando o que nada mais será dito,
Soprando a poeira que insiste em cair sobre nós.
quarta-feira, agosto 23, 2006
De partida
As vezes que esqueço de voltar,
Simulando que o dia não começa nunca mais,
Devassando quem dorme,
conspirando segredos nocturnos,
Procurando nomes que se afastam
Sem rasto, sem passos na relva pisada,
Escondidos no pó da cidade,
Amarrados às horas,
Ao verão deslizando na transpiração,
Aos vícios da respiração, dos espaços,
Dos sorrisos no meio das palavras guardadas
Em caixas, como segredos para o mundo
Saboreados com o gosto sombrio do mar.
A cidade esconde-se em nada e a luz esmorece,
Nada existindo além dos corpos que se esvaziam
Na confusão da sucessão dos dias,
Perdidos nas fugas dos barcos,
Cúmplices de quem se esconde longe,
Mesmo aqui ao lado.
Do escuro emergimos.
A noite não acabou.
sexta-feira, agosto 11, 2006
Onde o mar desapareceu
Onde o mar desapareceu
adormeceu o dia,
cansado,
entre desejos adiados,
tremores e excitação.
O corpo treme e acende
fissurando a escuridão,
num lusco fusco de traição
e vento derramado,
adivinhando rastos de errância,
de coração sangrado, sangrando,
rasgando fina pele de tempestade,
súbita, sibilante,
despoduradamente.
A beira-mar confunde-se
com o abandono.
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