sexta-feira, março 26, 2004


última gota




amanhece
a cidade dorme e desperta
aos poucos, primeiros, os silêncios e suspiros da manhã
nas margens do inverno desfeito suavemente
passos ecoam e desgastam as esquinas onde curvam os dias sempre iguais,
as pessoas, as nossas, das mesmas ruas e minaretes enclausurados

(pausa)

lágrimas
gotas confundem-se em pólen libertado no vento
repousando em tapetes e relva escura, alcatrão
sepultando a última terra
a que não respira
que envolve em dura prisão eterna
libertadora

- onde estou?

(ao fundo)

- chorando a última gota de paz...



(Escrito em Madrid, no dia 11 de Março de 2004. Para quem insiste em viver)