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última gota
amanhece
a cidade dorme e desperta
aos poucos, primeiros, os silêncios e suspiros da manhã
nas margens do inverno desfeito suavemente
passos ecoam e desgastam as esquinas onde curvam os dias sempre iguais,
as pessoas, as nossas, das mesmas ruas e minaretes enclausurados
(pausa)
lágrimas
gotas confundem-se em pólen libertado no vento
repousando em tapetes e relva escura, alcatrão
sepultando a última terra
a que não respira
que envolve em dura prisão eterna
libertadora
- onde estou?
(ao fundo)
- chorando a última gota de paz...
(Escrito em Madrid, no dia 11 de Março de 2004. Para quem insiste em viver)