quinta-feira, fevereiro 28, 2008



Lisboa (longe)

É triste a poesia dos horizontes que definham,
Do céu e das ruas que se perdem no caminho,
Das casas e dos telhados esventrados, sem coração,
Das almas enredadas na cidade escura que se dilui e se estende
Para longe.

Há dias assim,
Em que se acorda em outro lugar,
Luminoso.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008


Sublime pranto

Nomes à solta,
No confronto das vagas
Esbracejando,
Corações pesados
Lançados no mar,
Embarcados nos enganos,
Num sublime pranto,
Como ferro esfriando, esmorece
Quebra de dor.

Não tarda que acabe
Este queixume moribundo,
Gritos esmagados
Que já só Deus pode atender,
Como frágil caravela condenada, ardendo,
Afundando na rebentação.

O céu reclama
Por nunca termos sido mais do que a exacta poesia
Da névoa tomando o cais,
Da chuva beijando as brasas que se afogam diante nós.



“(…)A chuva no chão revela
Os olhos por trás
Há que levar o restolho
Do que o tempo queimou(…)”
In “Laços” de Tiago Bettencourt

sexta-feira, fevereiro 01, 2008


Anónimo

A voz tem a máscara das horas
Anónimas,
A fala é feita de sílabas cúmplices,
O vício da mentira é um presságio de sedução
De paixão sagrada,
O lume do corpo é incerto e tormentoso
Murmurando ao coração em frágil vigília,
Atento à passagem dos astros e das aves,
Na vertigem do fogo e da cinza.



Outros nomes esquecidos

Não encontro no sossego da noite em diante
Na vertigem da escrita
O sentido oculto do meu nome,
Nem a saída nem o começo
Do labirinto desenhando na condensação da janela.

Dormes,
Corpo devassado sem cicatrizes
Sem identidade,
Diluído numa metáfora desinspirada
Imediatamente esquecida,
Latejando ensurdecedoramente.

Os outros, os nomes esquecidos
Da minha insónia,
São nómadas vagueando por esta casa,
Cúmplices das folhas brancas que se soltam
E se tingem de palavras arrancadas no meu peito.