quinta-feira, janeiro 31, 2008






Ferrugem

Por entre as grades e a neblina
Prendem-se as luzes ferrugentas do porto,
Acalma-se a vastidão dos gritos metálicos,
Numa longa descida às horas mortas da madrugada.

Passos nascem e morrem nas ruas largas dos aterros ribeirinhos,
Perdidos,
Afogados em chuva lacrimosa
Nas paixões que arrefecem,
Abandonas à ferrugem dos quartos vazios e
Estuque esboroado,
Despontando das fachadas tristes,
Precipitando-se das sacadas podres que assomam nas colinas.

Em todas as janelas, o horizonte é fundo e triste.
Entrego-me.








“Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer (…)”
In “O Sentimento de um Ocidental” de Cesário Verde

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