Sobre a nossa cidade
Doía-me amar-te tanto,
e lembrar-me de tudo o que não eras tu,
consumir-me em quase loucura,
porque eras quase o mundo, todo,
e tudo o mais que eu imaginava,
flutuando sobre a nossa cidade,
tentando voar de mãos dadas.
Mas esqueci-me de ti,
e eu, lembrança efémera,
que ardeu contigo,
consumidos em fogo ardente, avassalador.
Vazios de tudo e cheios de nada,
definhamos por momentos, intermináveis,
tentando saber quem éramos, se sozinhos,
se tocando o rio com as nossas mãos,
limpando os salpicos com beijos.
E descendo o rio, não eras tu ao dobrar da esquina,
era eu, nascendo naquele momento,
renascendo de cinzas, já esquecidas
e agora voando, com o vento,
sobre a cidade, como nós.