sexta-feira, junho 27, 2003

Assim como as lágrimas...

...Voas com a chuva pelos telhados


Rola transparente e fria, sem complexos ou vergonhas,
longe de egoísmos mundanos ou enigmas não resolvidos.
Cai, contorna as arestas, amacia a dureza do chão,
como a chuva molha o barro, como as mãos o fazem coisa.
A dor está por dentro, contra a chuva que bate furiosa.
Escorregas pela cobertura, lavas a angústia presa, que não sai.
A lágrima torrencial dos teus olhos, a chuva que não teima,
mas persiste, o telhado que espalha o teu sentir.
Bate com força no chão, salpica o teu corpo de esquecimento,
marcas que só o tempo pode apagar.
Por entre as pedras, a lágrima rebola nas escadas,
alarga a torrente de palavras, sacrifica-te o sossego,
sacraliza-te o amor.
Voa do céu à terra, do teu coração ao outro.
São os teus gritos que te estendem os braços,
são os teus olhos que tocam o vazio.
De ferro os teus medos enfrentam-se, lutam, queimam-te de dor.
Chove e permaneces só.
Lava-te o olhar, cobre a tua alma.