Atlas
Os mapas antigos têm cores,
Ventos, monstros e serpentes, verdes.
A tua,
Rodeia-te o ombro,
Toca-te o veneno dos lábios,
Baralha-me a latitude,
Afunda-me nos cantos desconhecidos
Onde o mar cai no vazio,
Onde todos os aventureiros perderam o chão e o abismo
E descobriram as estrelas.
São os pontos recortados e letras que não conheço
Que lavram a linha do teu braço,
Apontam as cidades e os povos imaginados
No rumor da rua
(que não vemos há dias porque um atlas redescobre-se como
se fosse outra vez),
No estalido surdo da carne trémula,
Perturbando falhas, desfiladeiros, cicatrizes.
Os trópicos misturam-se na tinta e o Equador revela-se
quando me rodeias
E envolves no sopro Este do Levante.
Não se ouve ninguém nos confins do mundo.