sexta-feira, novembro 24, 2006
A voz das palavras
“Cada dia que passa escrevo menos, e o pouco que escrevo exige todo o meu tempo disponível. requer paixão sem partilha. (...)”
Al Berto, Livro Sétimo, 1984
O vazio esconde-se lá em cima,
Nos momento infinitos de claridade,
Dos dias de sol, alguns à tarde
Outros nunca, perdidos por esquinas e sombras,
Desconhecidos, na multidão,
Nas pequenas coisas raras, em todos os portos de qualquer voz,
De alguém que espera as cores, os sopros leves das palavras,
Em silêncio,
Desejando mudar.
A vida não chega para as tormentas do mundo,
Do canto iluminado onde a beleza se refugia,
Onde nos embalam, com a fúria de amar.
terça-feira, novembro 21, 2006
Gare do Oriente
Os risos,
Na claridade profunda daquele dia,
Estendendo-se até ao rio próximo,
Debruçando-se dentro das dúvidas de outras horas,
Presos ao que há-de ser,
Ao que já foi e ardeu lentamente no esquecimento,
Como o meu nome, o teu,
Devorado vezes sem conta,
Quando nos alimentámos de prazer,
Indiferentes à mudança das luzes,
Dia ou noite,
Vigiados pelos braços da estação,
Ao longe,
Mas abraçados, como nós,
Aqui,
Devagar,
Como o aproximar dos comboios.
segunda-feira, novembro 20, 2006
Sobressalto (nosso)
O mundo passa nos rios perfumados do silêncio,
(suave)
Olhando sítios onde a vida é dormente,
(devassa)
Acorda em ínfimos momentos,
(rara)
Paixão subtil em sobressalto,
(suspira)
Palavras atravessando a maresia,
(eterna),
Sorriso desenhando a palma da mão,
(adormecida)
Acorda desejo esquecido,
(tu)
Que tudo revela,
(em mim)
A tinta dos meus dedos no teu corpo,
(amando-te).
sábado, novembro 11, 2006
Dois segundos
Fantasmas esvoaçam na noite
Em movimentos sublimes e incertos
Peitos abertos em gritos sussurrantes
Fugas escondidas nas esquinas, nas entrelinhas
Das palavras que repousam e acordam
Nos corpos que se enchem de caminhos
De lábios rasgados a beijos e tremores incandescentes,
Na pele silenciosa,
Insónias de uma cidade que crepita vigilante,
Atrás de risos cadentes que chamam a rua
Em sublimes e esquivos sopros
Que só nós deciframos
Sem querer.
No fim, somos só dois momentos intermitentes.
sexta-feira, novembro 10, 2006
Tempo
O tempo demora a passar em todos os instantes,
Alonga-se em passadeiras devassadas por semáforo sem vida,
Indiferente, habituado a acordar tarde,
Em vagas lentas, abandonadas, preguiçosas,
Nos dias em que nada mais há do que eu e aquele dia.
E depois, o passar do mundo resplandece
A cada eco dos teus momentos,
Atordoa e fere todas as sombras que os ameçam,
Cresce, estreme, na medida da nossa procura,
Na avidez de corpos reencontrados,
Agitando-se,
Amando e odiando,
Cada réstea de tempo que nos une e vicia.
sábado, novembro 04, 2006
Luminoso
Luminoso coração à margem da minha cidade,
Silêncio claro, fio de história febril
Sem tempo, nem forma,
Sem palavra que dormite e nada ofusque
Encontros manchados de neblina fresca,
A imaginação cintilante de ter ver sempre,
Aqui,
Nos fulgurantes segredos da nossa tempestade,
Que nunca amaina, sempre amarga,
Sempre irresistível,
Como um errante sossego, sempre desfeito,
Sempre perfeitamente imperfeito.
sexta-feira, novembro 03, 2006
inesperado
Fugindo de presentimentos esquecidos
Com travos indecifráveis
Que tudo complicam e amarrar,
Transformam o doce dos momentos,
Em sabor a demência,
Escasseando na mesma proporção que a felicidade
Aquela que deixas nos lábios hemudecidos nos meus,
Consumindo-se
Mas intacta como fogo
Protegida da ilusão fugitiva de ter certezas.
Afundamo-nos no terror de um dia nada ser inesperado.
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