sexta-feira, março 14, 2014

Guardiões da claridade




A cadeira vazia admira o deserto que se estende, infinito, depois do terraço

E o bloco de papel perde todas as notas de solidão,

Todo o ressoar dos mastros recortados no pôr-do-sol.

O cântico do Mar da Palha dilui-se, vasto, como um temporal que se indicia mas não acontece.



Balançam os pés na beira do telhado e nós

Experimentamos as fronteiras do que podemos sentir, aqui,

Onde tudo se abre e se mostra, onde ninguém adivinha como nos queremos,

Como bebemos as estrelas e pescamos cardumes de gaivotas

Sacudidos pelo vento.



Envolvo a mão magoada na escrita no calor da noite, na tua furiosa quietude,

Desfaço os nossos nomes em poemas exaustos, viajantes, atormentados.



Foi assim que nos tornámos guardiões da barra do rio, da ponte perdendo-se no nevoeiro, do perfume intermitente da claridade, das palavras amareladas no bloco de notas, nascidas e mortas no mesmo instante de vento brando.



E todos os dias daqueles dias, mordemos o sossego, desfizemos o poente nas fogueiras acendidas por toda a cidade, provámos os corpos urgentes e inacessíveis de quem sonhava acordado.



Tornámo-nos descrentes de que, um qualquer dia, toda a cidade que se avistava não seria nossa, sempre.



sábado, fevereiro 01, 2014

Espera (Linha Amarela)


É no cais que se espera
São quatro minutos
De espera
Pessoas que desesperam
Eu
Que descanso, escrevo,
Brinco com os passos, nas mãos,
No brilho dos azulejos
Nos grafitis mal educados
E espero
E penso, conjuro, desconstruo, maquino, procuro
Mudo o mundo mudo
E o que pensava fazer daqui a três dias
E fico imóvel
Sempre ali
E gritam comigo (estou em frente à porta do comboio)
Cheio, cheios de espera, de cidade,
De Natal, de Páscoa, de Férias, de vida
Loucos
De ânsia
Chegar a casa
A ti
 - “Para sua segurança não ultrapasse a faixa amarela" –
A linha amarela traçado aos meus pés,
A linha que nos separa de nada.
Passaram quatro minutos e um segundo,
Vou passar nas outras estações, mudar de linha e de coração
E esperar
Quando sair na estação que dá para o mar
E submergir para amanhã.


segunda-feira, janeiro 20, 2014

Acompanhe no Facebook a “página irmã” deste Blog, onde as publicações incluem textos e fotografias dos mais diversos autores, sempre com Lisboa em pano de fundo e, claro, textos de Daniel Costa-Lourenço.




https://www.facebook.com/mardapalha.dcl

quarta-feira, janeiro 15, 2014

A Spoken Word Session "Trans(e)ação" é recomendada pela TimeOut Lisboa desta semana :)

terça-feira, janeiro 14, 2014


As spoken Word sessions voltam ao Bairro Alto a 16 de Janeiro. Depois de um 2013 completo, o Etílico Bairro Alto e o Blog Mar da Palha voltam a organizar sessões de poesia que misturam a voz, música e imagens, sendo o coletivo constituído pelas vozes de Daniel Costa-Lourenço, Susana Simões e Bruno Torrão, o ambiente sonoro a cargo do piano de Paulo Martins e da guitarra de Luís Pestana e a poesia visual a cargo de Eldorado13 by Marta Cruz.

Á semelhança de outras sessões, como “O Amor é uma Maldição”, Sussurros”, “Lisboa”, “Mar”, “Utopia”, “Venenos” ou “Vísceras”, existe um tema transversal e enquadrador, sendo que este “Trans(e)ação” está subordinado à poesia erótica, de autores mais e de outros menos conhecidos, tendo a música e a projeção de imagens como a envolvência perfeita.

E como sempre, não se pretende uma sessão formal mas sim que o público se sinta confortável e desafiado a entrar no espectáculo, podendo inclusive trazer os seus poemas preferidos e ligados ao tema, com o objetivo de fazer desta sessão um encontro de pessoas e partilha de paixões.

Acontecerá a 16 de janeiro, quinta-feira, pelas 22h30 e com a duração aproximada de 1 hora.