quinta-feira, maio 31, 2007


Ás vezes

Espero que o azul cubra de fogos o céu,
Em outro dia de ninguém,
De anunciada redenção,
A ti.

Navegam os desejos que espalho na superfície,
Ás vezes subindo contra a corrente,
Ás vezes o mar nascendo no horizonte.

São minhas as palavras que anunciam o Verão,
Quando me lembro
Quantas vezes desci todas as colinas
Ensopadas em febre e água.

É somente a euforia,
O medo de gritar sem ouvir
Os pálidos toques em pele.

Ás vezes amo-te,
Ás vezes tudo se cala.

terça-feira, maio 29, 2007


Tempo adiado

Os salpicos no terraço confundem outra manhã insuspeita
Que o tempo não é este,
E faz tempo que não adormeço lá fora,
No cálido embalo do burburinho das multidões errantes,
Lá em baixo, nas reuniões secretas das copas das árvores,
Somente estudando o desenrolar do tempo,
Apoiados nas pernas cruzadas sobre o fresco da calçada.

A cadeira permanece recolhida
Sobre o jornal de há tempos, ensopando,
Diliuindo tinta e memórias de outros dias.

Sobra-me tempo para seguir o caminho das gotas,
As luzes seguindo ordenadas, piscando na ponte,
Para outra vez olhar a esplanada triste, na praça vazia.

É o tempo adiado, o verão que tarda,
A porta que demoro abrir, sem pressas
No silêncio cheio de palavras indecifráveis,
Adivinhando a insconstância do tempo que foge.

terça-feira, maio 22, 2007


Primavera


A limpidez do dia passava
Medida no tempo das coisas,
Das pessoas misturadas
Nas cores frias dos telhados,
Confudidas nos desenhos das sombras.

Não conheço ninguém nesta luz tão húmida,
Na música que flutua entre as torres,
Entre cada esquina que hiberna mais um ano.

Penso no que farei amanhã,
Fugir nas furiosas paixões das avenidas largas,
Dos mundos que se repetem em cada pessoa,
Guardadas em todas as grades que rodeiam os jardins.

Cheira a verde, a água e a árvores tombadas
A primavera no Norte.

quinta-feira, maio 10, 2007


Parece infinito

Parecem infinitos,
Os passos que se apagam na areia fina de Jürmala,
Misturando-se no vento de Maio,
No uivo dos pinheiros vigilantes.

Parece profundo,
O azul dos bancos pontuando a praia,
A espuma revolta perdida no mar frio e escuro,
A brisa forte embalando os pássaros.

Na madeira gasta das paredes,
Parece simples
Escrever um dia perfeito.

(Jürmala - Letónia)

sábado, maio 05, 2007


Riga

Agitadas pelo vento gelado do Báltico,
As águas correm escuras
Nas margens desertas de domingo.
As cúpulas desafiam a planura das nuvens,
Assinalam os desencontros da cidade adormecida.
Rimos e fugimos das esquinas geladas de Riga,
Sem adivinhar qualquer Primavera próxima.
Amigos rindo num café
Inventam os caminhos do mar próximo,
Sem pressa de voltar.
(Riga - Letónia)