sexta-feira, junho 17, 2005


Amantes

Na deserta manhã da cidade,
Abandono-me ao desejo que escorre sobre ti,
Gemidos expulsos no que não se disse
Por palavras,
Limpo o esquecimento da noite,
Agarrando o que parecia querer escapar .

A boca...

Frases e sentidos serenados no peito,
Sublimadas no desejo de possuir sem rodeios,
A carne que abraçamos, tremendo...

A tua boca...
O denso travo salgado do corpo húmido,
Erguendo-se entorpecido,
Tropeçando no cansaço espreitando tímido...


As janelas revelam a nossa nudez perfumada.
Rimos...


*


“Um dia, enfim, só mais um dia
Para que possamos fazer amor livres
De outros compromissos
Até mais tarde, muito tarde
Até sublimes nos dissolvermos”


J. C Jerónimo, in “Só mais um dia”

quinta-feira, junho 02, 2005


Evadido

Desejo amotinado que se evade
Sem ruído, anónimo
Soprando a caliça presa nas unhas,
O amor suspenso na fúria cravada na tua muralha intransponível,
Em sangue expulso de feridas abertas sempre que é possível,
E que tu queiras
E que tu abras,
A malícia de saber que me prendes
Para que eu me solte
Vezes sem conta, as que te faço minha, por não seres
Nem tua.

Vento invernoso fustigante
Perdendo-se na demência de nada saber
Soçobrando,
Esvaindo-se no mar.

*

“Amei-te como um demente imanente
Num pedaço de lua,
Com uma flor de pudor lasciva
Cravada no meu sonho;
Fantasiei vidas sobre nós,
Cantei prantos de logro sem voz.”


Pedro Peralta in “Os Amantes Convexos”